quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Moradores jogam esgoto na frente da prefeitura de Itapuí

 


Natalia Gatto Pracucho
natalia@comerciodojahu.com.br

Moradores de Itapuí realizaram ontem manifestação na frente da prefeitura, por volta de 10h15. Cerca de 120 litros de esgoto, distribuídos em quatro barris, foram jogados por representantes da população na calçada e escadaria de acesso ao Executivo. A ausência de tratamento de esgoto na cidade e consequente despejo in natura de dejetos no Córrego Bica de Pedra e no próprio Rio Tietê, na altura do bairro Baririzinho, são os motivos do protesto.
A iniciativa foi tomada pela população como forma de apresentar à prefeitura os problemas pelos quais os moradores têm passado e, dessa forma, cobrar posicionamento do Executivo quanto ao início da construção de Estação de Tratamento de Esgoto (ETE).
Funcionários da prefeitura afirmaram que o prefeito de Itapuí, José Gilberto Saggioro (PPS), estava no interior do prédio durante a manifestação. Ele teria afirmado que não se pronunciaria “nessa situação”. O Comércio contatou a assessoria de imprensa da prefeitura, que enviou nota sobre o episódio (leia texto).
Os barris de esgoto lançados na escadaria do Executivo foram levados pelo presidente da Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) Eco Vida, antiga ONG Bica de Pedra, José Victor Ficcio, e pelo marceneiro Geraldo Pachielli Junior, 49 anos, em cima de trator. No veículo havia faixas com os dizeres “Tratamento de Esgoto Já”. A população aplaudiu a chegada do trator ao prédio. Até o fim do protesto, cerca de 60 pessoas assistiram ao ato.

Mau cheiro

“O objetivo da manifestação é que o prefeito se mobilize e inicie o projeto de construção da estação de tratamento de esgoto. O que jogamos na frente da prefeitura (esgoto) é o mesmo despejado no Córrego Bica de Pedra. O odor que eles estão sentindo agora é igual ao que inúmeros moradores sentem diariamente (leia texto)”, afirma Ficcio.
O presidente da Oscip alega que a população tentou conversar com Saggioro por inúmeras vezes, mas não teria sido recebida. A solução, segundo Ficcio, foi o protesto. “Como não houve uma explicação com fundamento para poder resolver este problema, iremos voltar aqui (na prefeitura) nos próximos dias e fazer uma coisa mais grave ainda.”
A Polícia Militar foi acionada por volta de 10h30 por funcionários da prefeitura. Foi elaborado boletim de ocorrência contra Ficcio por desacato ao prefeito. De acordo com o primeiro tenente da PM, Alessandro Géa de Souza, a corporação compareceu à via sob alegação de que a tranquilidade pública estava sendo abalada. A perícia técnica interditou o trecho da Rua Coronel Frederico Ferraz, local do protesto.

Cidade tem condenação há dez anos


Há dez anos a prefeitura de Itapuí está condenada a construir a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), sem direito a recurso. A multa por não executar a obrigação ultrapassa R$ 30 mil.
Conforme noticiado pelo Comércio, o prefeito José Gilberto Saggioro (PPS), em sua primeira gestão, apresentou aos promotores Celso Élio Vannuzini e Jorge João Marques de Oliveira projeto da estação de tratamento de esgoto que pretendia construir, mas as obras de construção não foram iniciadas.
O descumprimento de ordem judicial acarretou em mais uma ação civil pública proposta em 15 de abril, desta vez por suposto ato de improbidade cometido pelo prefeito. (NGP)

Cães morrem por suposta contaminação


Moradores de Itapuí estão inconformados com a situação do município no que se refere ao tratamento de esgoto. “Cobram da gente R$ 4,50 de esgoto mensalmente, sendo que não temos estação de tratamento”, declara o mecânico Álvaro de Castro, 54 anos, que apresentou ao Comércio a conta de água de sua residência.
A arquiteta Lúcia Berriel, 57 anos, se mudou de Bauru para Itapuí há dez anos em busca de qualidade de vida. Ela possui um rancho na beira do Rio Tietê e diz que não consegue reunir os amigos por causa do mau cheiro do esgoto lançado in natura no rio. Segundo Lúcia, quatro cachorros que possuía – um da raça labrador e três sharpei americano - furaram a cerca de acesso ao rio, entraram na água e, três dias depois morreram, provavelmente contaminados.
Próximo ao Córrego Bica de Pedra, que também recebe parte do esgoto, há um colégio particular. A diretora do estabelecimento de ensino, Sirlei Balduin Lanza, 42 anos, afirma que os alunos com idades entre 3 e 14 anos têm de conviver diariamente com o mau cheiro. “Há crianças que passam mal, têm enjoos e dor de cabeça.”
Para a dona de casa Edna Agnello de Castro, 49 anos, o município perdeu qualquer potencial turístico que possuía, porque a prainha também está contaminada pelos dejetos despejados no Rio Tietê. A Rua Jorge Chamas, próxima ao rio, no bairro São Sebastião, é local de caminhada dos moradores. “Agora todo mundo tem de andar com o nariz tapado.” (NGP)

Prefeito repudia ato


Leia abaixo nota divulgada pela prefeitura de Itapuí:
“O prefeito de Itapuí, José Gilberto Saggioro (PPS), vem a público manifestar profunda indignação e veemente repúdio aos atos de selvageria e baderna promovidos hoje pela manhã em frente ao seu gabinete por meia dúzia de pessoas – dignas de bufões extravagantes – cujo objetivo pode ter sido o de autopromoção pessoal e desgaste político da atual administração.
O que essas pessoas fizeram foi um ato bárbaro de vandalismo contra o patrimônio público municipal, que fere frontalmente os princípios básicos da democracia, da convivência política civilizada de respeito às divergências.
Esse ato de vandalismo não resolve e só causa prejuízos à imagem de Itapuí e a  sua população. Além de invasão ao prédio público com xingos e ofensas pessoais ao prefeito.
Por isso, vimos esclarecer os seguintes pontos:
1. Em nenhum momento o prefeito Saggioro foi procurado por essas ou quaisquer pessoas ou pela ONG para conversar, dialogar ou marcar uma audiência.
2. O ato selvagem foi claramente premeditado, visto que mobilizou com antecedência toda a mídia regional.
3. Há formas civilizadas de convivência política, que o prefeito Saggioro sempre adotou e respeitou em sua administração à frente da Prefeitura.
4. Direito de protesto, sim. Vandalismo, grotesco e hilário espetáculo circense, não.
5. De forma civilizada, o prefeito recebe a todos indistintamente de cor partidária, credo religioso, preferência futebolística, etc. Desta maneira, não há condições de diálogo.
6. O prefeito diz que a população de nossa cidade não merece conviver com pessoas que promoveram essa baderna, que poderia resultar em violência.
7. ‘Sinto-me triste e envergonhado por nossa cidade ter pessoas que pensam e agem intempestivamente com pensamentos retrógrados.’
Diante dos lamentáveis acontecimentos, o prefeito acionou as Polícias Militar e Civil, que registraram boletim de ocorrência e fizeram perícia técnica no local, contra os participantes do vandalismo.
Já acionou o departamento jurídico para medidas judiciais cabíveis de crime contra esses indivíduos que realizaram a “manifestação”.
A respeito do ‘pseudo-motivo’ do ato, a prefeitura acrescenta o seguinte:
1. O prefeito Saggioro tem trabalhado arduamente para conseguir construir uma ETE em Itapuí.
2. Assinou no dia 10 de abril de 2008 (em Bálsamo, região de São José do Rio Preto) convênio com o governo do Estado para construção da ETE, no valor de R$ 2.894.000,00, de tratamento de esgotos no município. Na presença do então governador José Serra.
3. No entanto, passado tanto tempo, o atual projeto da ETE de Itapuí ainda encontra-se no DAEE, em Birigui, para aprovação, já que houve desde então mudança do objeto do convênio: de lagoa de decantação para estação compacta, reduzindo de maneira substancial o custo da ETE.
4. Assim que for aprovado, a Prefeitura fará a construção imediata da ETE de Itapuí, a primeira em sua história.”